quinta-feira, 9 de junho de 2011

O capitalismo como o factor que influencia no suicidio na Visao de Marx e E. Durkheim

Por: Constancio Pereira Novinho Nhantumbo


1. Introdução

O presente trabalho está inserido no âmbito da cadeira de psicologia comunitária, leccionada para o curso de licenciatura em psicologia, vertente Social e das Organizações, da Universidade Eduardo Mondlane, com objectivo de fazer uma análise sociológica e procurar debater a questão tendo como parâmetro os conceitos adoptados por um ou mais autores discutidos no programa da disciplina.
Para que este trabalho se torne pertinente, falar-se-à de como variáveis económicas influenciam as taxas de suicídios na perspectiva de Durkheim e Marx.
Este trabalho, visa explicar o suicídio enquanto fenómeno social, intemporal e universal. Para isso se demonstrará que este acto individual pode ser analisado a partir do contexto colectivo, através da análise sociológica durkhiemiana.
Tentarei ainda demonstrar quais as causas de mau estar geral que se faziam sentir na época, e que revelavam assim uma ruptura clara de laços sociais, ruptura a qual Durkheim queria dar resposta para poder constatar quais eram os laços que uniam os indivíduos entre si.
Assim, abordarei ainda temas influentes como a religião, a ordem social, a família e a moral, a fim de poder depreender o que leva o indivíduo a cometer tal injúria sobre si próprio.
Terei também em conta os três tipos de suicídio, utilizados por Durkheim para uma melhor caracterização dos mesmos, falo assim do Suicídio Egoísta que se caracteriza por um estado de apatia e ausência de qualquer apego a vida, do Suicídio Altruísta ligado a energia e a paixão e, por fim, o Suicídio Anómico caracterizado por um estado de irritação e repulsa.
Farei também, uma breve referência ao homicídio e o que leva os indivíduos a sacrificarem-se a si próprios ou aos outros.
Nesta pesquisa, como resultado espero que a comunidade encare necessáriamente daquilo que são os problemas causados pelo este mau, ligados directamente aos problemas do capitalismo como elemento primordial no estabelecimento de insatisfação e conflitos na sociedade o que leva as pessoas a se suicidarem.

O trabalho encontra-se divido, em quatro partes: a introdução, fundamentação teórica, apresentação de casos visto na comunidade concreta moçambicana e por último, a conclusão.
O trabalho se baseará na seguinte estrutura:

 Problema cientifico
O problema que se pretende pesquisar é o considerável o incremento de casos de suicídio na cidade de Maputo.

 Objectivo geral
Compreender as causas que levam muitas pessoas a suicidarem-se na sociedade, especificamente moçambicana

 Objectivos específicos
1- Identificar autores clássicos que abordam a questão do suicídio no âmbito sociológico;
2- Identificar um caso na comunidade em que ocorre o suicídio segundo Durkheim
3- Descrever as características do sistema capitalista segundo Karl Marx;
Fazer uma análise sociológica dos factos sociais.

 Hipótese conceptual
O capitalismo acompanhado por grande desenvolvimento tecnológico influencia no aumento da taxa de suicídio.
O capitalismo acompanhado por grande desenvolvimento tecnólogico não influencia no aumento da taxa de suicídio.


 Conceito básicos
• Suicídio.
• Capitalismo.
 Metodologia
Revisão bibliográfica de modo colher informação de acordo com vários autores acerca do suicídio e do capitalismo num âmbito sociológico.

Justificativa

A razão da escolha deste tema, insere-se no facto dos órgãos de informação, (radio, televisão, Internet) assim como o desespero de muitas famílias que ficam em estado de choque e frustração devido ao suicídio.
O que leva uma pessoa a acabar com sua vida de forma tão brutal?
A verdade é que o suicídio é um acto que muitas vezes tem o objectivo de gerar um reconhecimento social pelo suicidado, através do choque que gera nas pessoas presentes em sua vida, directa ou indirectamente estão ligadas por grau ou laço de parentesco.
Por ser um problema que enferma a sociedade urge fazer-se uma análise aprofundada deste fenómeno social que constitui até certa medida um desvio da normalidade.
Verifica-se um assédio ou violência moral, muita das vezes provocado pela globalização que advém dos grandes avanços tecnológicos e consequentemente do sistema capitalista que muitos países adoptaram, daí a motivação para se abordar este tema de interesse social.

A relevância do tema para a sociedade Moçambicana
Este tema constitui um instrumento forte para a sociedade moçambicana, refere-se exactamente aos agentes da saứde, da policia de investigação criminal, a própria comunidade moçambicana (família, igreja e outros), que tem se empenhado na luta contra esse mal que enferma a sociedade no geral.
Assim, como forma de travar os índices de indivíduos que optam por tirar as suas próprias vidas com o recurso a várias formas em virtude de estarem atingir proporções alarmantes, surge no entanto uma atenção primordial naquilo que o tema traz como subsídio para por fim ao trama que a sociedade moçambicana tem vivido, quando os mídias noticiam diariamente os casos ligados a práctica de suicídio na comunidade.
Como o suicídio, não só afecta ao indivíduo practicante mas também a família e a comunidade que fica chocada com o sucedido, por isso acho ser exactamente ai onde reside a relevância do mesmo para a comunidade moçambicana.



CAPITULO I. PRESSUPOSTOS DURKHEMIANOS

O conhecimento do pensamento de Émile Durkheim como qualquer grande autor de sociologia exige a compreensão dos pressupostos em assentar a sua abordagem.

I. 1. Vida e obra de Durkheim
Émile Durkheim nasceu numa família judaica, em 1858,e morreu em 1917, Arom (1991) citado por Giddens (2004) era filósofo de formação inicial, tendo frequentado a escola mais prestigiado do ensino universitário francesa escola normal supércure, Esta formação de base vai ajudar a perceber que ao fundar a sociologia como novo campo de saber universitário vai se afirmar por um lado contra a filosofia por outro, contra a psicologia, uma vez que eram parentes próximo corriam perigo de ser confundidos, antes da fundação do primeiro laboratório de Psicologia em Lipzing na Alemanha em 1879.
Em 1880 é nomeado professor de pedagogia e de ciências sociais na faculdade de letras na universidade de Bordeus, no primeiro curso de sociologia criado em universidades francesas.

I.2.Especidades dos pressupostos sociológicos
Para Durkheim a sociologia constitui uma ciência positiva, pois aborda os factos sociais como coisas ou seja inspiração no paradigma das ciências da natureza para explicar ao factos sociais dai define o método experimentação indirecta ou seja o método de comparativo.



• Normalidade
OMS (1997) a normalidade é entendida como sua generalidade, um fenómeno social é normal quando é encontravel de maneira geral numa sociedade de um certo tipo em determinada fase de desenvolvimento.

Como é que se constituem os indivíduos? E como se explica a integração entre eles?

Aron (2001) Apresenta um ponto de vista semelhante em relação a concepção de problemas na perspectiva durkheimiana, afirmando que: os problemas sociais não são de ordem económica é sim problema de consenso, isto é sentimentos partilhados pelos indivíduos graças as quais os conflitos são resolvidos ou atenuados.
Em suma a vida na sociedade é possível porque há níveis aceitáveis de consenso partilhados pelos seus membros, quando o povo participa na tomada de decisões porque de uma maneira geral assume como elemento integrante.

• Regulação da sociedade
Para Durkheim (1960: 194) citado em Aron (2001), a instância que regula a sociedade é a ordem moral que toma forma de norma moral.
Mostra-se que esta norma tem função de evitar o desmoronamento da consciência comum e por consequência a solidariedade social e que não pode desempenhar esta função na condição de ter um carácter normal. Durkheim acusa a existência em cada individuo de duas consciências, a individual e a colectiva.
Pode-se entender desta forma que a ordem moral é de extrema importante na medida em que serve para manter a coesão social do grupo.


I.3.Primado da sociedade sobre o indivíduo

A noção de sociedade é apresentada como uma grande entidade que ultrapassa o individuo. A perspectiva de Durkheim sobre a sociedade e os factos sociais é uma perspectiva holística, no sentido em que apenas consideram pertinentes as partes do todo sendo irrelevante considerar as partes.

I.4. Durkheim e a Educação
A educação é um assunto eminentemente social, tanto pelas suas origens como pelas suas funções. (Durkheim 183: 60)
A sociedade só sobrevive se existir entre os seus membros um grau superior de homens.

1.4.1. Breve tentativa de definição do fenómeno suicídio .
Suicídio, do latim sui (próprio) e caedere (matar), é o acto intencional de matar a si mesmo. Sua causa mais comum é um transtorno mental que pode incluir depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, alcoolismo e abuso de drogas, dificuldades financeiras e/ou emocionais também desempenham um factor significativo.
Mais de um milhão de pessoas cometem suicídio a cada ano, tornando-se estaa décima causa de morte no mundo, trata-se de uma das principais causas de morte entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade. Entretanto, há uma estimativa de 10 a 20 milhões de tentativas de suicídios não-fatais a cada ano em todo o mundo.
As interpretações acerca do suicídio tem sido vistas pela ampla vista cultural em temas existenciais como religião, filosofia, psicologia, honra e o sentido da vida.
O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia." As religiões abraâmicas, por exemplo, consideram o suicídio uma ofensa contra Deus devido à crença religiosa na santidade de vida.
No Ocidente, foi muitas vezes considerado como um crime grave. Por outro lado, durante a era dos samurais no Japão, o seppuku era respeitado como uma forma de expiação do fracasso ou como uma forma de protesto. No século XX, o suicídio sob a forma de autoimolação tem sido usado como uma forma de protestar, enquanto que na forma de kamikaze e de atentados suicidas como uma táctica militar ou terrorista.
O Sati é uma prática funerária hindu no qual a viúva se auto-imola na pira funerária do marido, quer voluntariamente ou por pressão da famílias e/ou das leis do país.
O suicídio medicamente assistido (Eutanásia, ou o "direito de morrer") é uma questão ética atualmente muito controversa que envolve um determinado paciente que esteja com uma doença terminal, ou em dor extrema, que tenha uma qualidade de vida muito mínina através de sua lesão ou doença. Para alguns, o auto sacrifício geralmente não é considerado suicídio, uma vez que o objetivo não é matar a si mesmo mas salvar outrem.

I.5. Suicídio na visão do Durkheim
Para perceber o suicídio na perspectiva durkhiemiana teremos de nos abstrair de todas as ideias preconcebidas que por vezes absorvemos do senso comum. É imperativo referir que esta forma de acabar com a própria vida não é explicada apenas por factores interiores ao indivíduo (como a loucura), mas também, e principalmente segundo Durkheim, por factores exteriores ao indivíduo (a sociedade na qual se insere).
O suicídio é, antes de mais, um indicador do estado moral da sociedade, que embora seja sublime e subjectivo, mostra-nos que forças de acção individuais e colectivas actuam em sociedade e em que grupos predominam. O meio social determina, portanto, as características, os valores e normas sociais, que embora sejam comuns numa sociedade, ganham maior ou menor adesão em cada grupo social. Só assim se explica o maior ou menor interesse do indivíduo pela vida, que numa etapa mais aguda pode ser uma das causas ocasionais do suicídio. Conquanto todos os ideais, crenças, hábitos e tendências comuns que constituem o meio social são independentes entre si, no entanto propendem para diferentes graus de coesão social e consequentemente para uma diferente tendência colectiva do suicídio.
Segundo Durkheim, só pode haver tipos diferentes de suicídios se as causas a que estão ligadas sejam diferentes, ou seja, para que cada uma tenha uma natureza própria, é necessário que tenha também, condições de existência que lhe seja específica. “ Em resumo, a nossa classificação, em vez de morfológica, será, logo à primeira vista, etiológica. Não se trata, aliás, de uma inferioridade, pois penetra-se muito mais na natureza de um fenómeno quando se conhece a causa do que quando se conhece unicamente as características, mesmo essenciais.”(Durkheim,pag.145).

Durkheim demonstra que o suicídio varia inversamente ao grau de integração do grupo social do qual o individuo faz parte com algumas excepções por ele apontadas.
A lei de suicídio é do Durkheim é considerada uma lei sociológica em virtude de as variáveis de estarem relacionadas a um fenómeno social: A taxa de suicídio, representa um traço característico de um grupo, e do grau de coesão que para além de ser um traço do grupo aparece também como traço deste indivíduo.

I.5.1. A familia e a religião como factores moderadores
Segundo Durkeim (2001), A família é também um assunto abordado por Durkheim, tendo a mesma, segundo o autor, uma função moderadora no que diz respeito ao suicídio. Para melhor compreender este ponto é necessário explicitar a questão das idades, ou seja, o maior número de suicídios ocorre entre os vinte e os trinta anos, segundo o autor, é neste período de tempo, que se possui uma menor força moral, pois esta entregue a si próprio, enquanto que no seio familiar o individuo esta sujeito a força benéfica que esta exerce sobre o mesmo.
No que concerne ao homicídio, um termo que o autor usa como comparação, a família não tem um poder de persuasão tão elevado como deveria ter, o que por vezes leva a que exista um maior número de homicídios dentro da mesma. Com isto poderia dizer que, não é o facto de se estar casado mas sim de se ser mais velho, logo nestes casos de “vida doméstica” pode se suscitar um número mais elevado de homicídios, pois a força moral exercida pela família sobre os membros que a compõem é bastante elevada, esta deveria afasta-los do homicídio, mas por vezes, se não na sua maioria é a causa para que o mesmo decorra.

 A religião
A religião desempenha um papel primordial na descodificação de símbolos para a tomada de consciência da sociedade, pois enquanto elemento agregador de todas as naturezas individuais, a sociedade produz diversos estados mentais dentro das consciências colectivas.
Esta diversidade do social não é apenas única no campo da religião, onde encontramos diferentes tipos de indivíduos com vista ao mesmo fim, é também partilhada nas modas, na moral, isto é, em todas as formas de vida colectiva. Numa perspectiva weberiana no que concerne às seitas religiosas, teria de existir uma uniformidade geral de princípios para delas os indivíduos fazerem parte, teriam de responder a um certo número de exigências, principalmente no campo moral e religioso e uma garantia ética no que respeita ao ascetismo protestante.
A sociedade necessita também de outros elementos para a sua subsistência, para além dos indivíduos. Entramos, portanto na materialização da sociedade, pois a vida social cristaliza-se nos em suportes materiais, e os factos sociais começam a agir sobre nós a partir do exterior. A sociedade caminhará para a produção de uma consciência colectiva que dará precedência ao interesse comum, em detrimento do particular (os prescritores de novas tendências), “Portanto, a corrente colectiva é quase exclusivamente exterior às consciências particulares (…), (Durkheim, pág.337).
Durkheim compara a consciência colectiva com Deus, dado que se o homem tenta imitar o seu criador, esta reprodução é feita de modo fraudulento e descurado, logo a consciência individual é uma imagem “pálida” da consciência colectiva.
Entre estes dois termos, suicídio e homicídio, existem segundo ao autor, alguns pontos comuns mas também contraditórios. Assim, para que exista uma melhor percepção e harmonização entre os mesmos o autor recorreu aos três tipos de suicídio.


1.5.2. Os três tipos de sicídio segundo Emile Durkheim
O suicídio egoísta, é aquele que se encontra com uma maior frequência, este tipo de suicídio é “ (…) caracterizado por um estado de depressão e de apatia, fruto de um individualismo exagerado.” (Durkheim, pág.381).
Neste tipo de suicídio o indivíduo, deixa de ter uma ligação tão forte com a sociedade, pois a vida que o individuo gostaria de ter já não corresponde a realidade existente, este pensa ser superior a mesma, pois para ele o que a sociedade lhe oferece já não o satisfaz, fazendo assim com que o individuo viva “ (….) no meio do tédio e do aborrecimento (….) ” (Durkheim, pág.381).
O suicídio egoísta é, o estado em que o Eu individual se afirma desmesuradamente diante do Eu social, isto sucede pois tal acto é tolerado pelo Eu social, permitindo assim que a afirmação do Eu individual prevaleça, resultando assim, numa individualização desmedida.
No fundo isto acaba por ser uma contradição, pois o indivíduo deveria sentir-se realizado consigo mesmo, por se sentir superior, digamos assim, a sociedade a que pertence, mas em vez deste sentimento de auto realização acontece o oposto, ou seja,”(… )o vinculo que liga o homem à vida se distende, é porque o vínculo que o liga à sociedade também se distendeu.” , acabando assim por levar o individuo ao suicídio.
A situação torna se diferente quando falamos de homicídio, este, segundo o autor é um acto violento, o homicida não se sente a altura da sociedade onde habita tendo por isso a necessidade, de eliminar o indivíduo que este pensa estar acima dele.
 Suicídio altruista
No suicídio altruísta o suicídio e homicídio, como é mencionado pelo autor ” (…) podem perfeitamente caminhar lado a lado, porque dependem de condições que diferem por uma questão de grau (…) ” (Durkheim, pág.382) este tipo de suicídio é caracterizado por uma integração social desmedidamente forte, pois o individuo pode suicidar se por estar desinstitucionalizado da sociedade que o acolhe mas também pode faze-lo caso esteja demasiado integrado nela.
Este tipo de suicídio é característico, segundo o autor, das sociedades primitivas onde o individualismo é muito fraco, mas subsiste ainda nas sociedades modernas, como por exemplo na sociedade militar, onde a número de suicídios é mais elevado devido a pressão hierárquica que se impõe fortemente ao indivíduo.
Por fim, mas não menos importante, o suicídio anómico, ao qual o autor concede uma maior importância, corresponde no fundo a uma falta de regulação social opondo se assim ao suicídio altruísta que se caracteriza por uma regulação social excessiva como tínhamos visto anteriormente.


 Suicídio anómico
No suicídio anómico também existe a possibilidade de uma ligação entre suicídio e homicídio pois como diz o autor, ” (…) a anomia provoca um estado de desespero e de cansaço exasperado que pode (…) virar-se contra o próprio individuo ou contra outrem (…)” (Durkheim, pág.383) logo pode levar tanto ao suicídio como ao homicídio, o que difere entre eles é a “ (…) constituição moral (…)” (Durkheim, pág.383) que cada individuo possui.
O suicídio anómico é o tipo de suicídio que ocorre com uma maior frequência nas sociedades modernas. Este esta estreitamente ligado a um grande desenvolvimento, principalmente na área industrial e comercial onde este tipo de suicídio ocorrer com uma maior frequência.
Durkheim considera ainda que, este tipo de suicídio é particularmente preocupante nas sociedades modernas, visto que esta estreitamente ligado à falta de controlo que existe nas sociedades e que estas exercem sobre o individuo.”Nestas sociedades, a existência social não é regulada pelo costume; os indivíduos estão em competição permanente uns com os outros; esperam muito da existência e exigem muito dela, e encontram-se perpetuamente rondados pelo sofrimento que nasce da desproporção entre as suas aspirações e as suas satisfações.”(Raymond Aron, pag.331)

I.5.2.Motivos de Suicídio
Segundo Davidoff ( 2001), São vários os motivos que levam os indivíduos a optarem pelo suicídio, a saber:

Suicídio Escapista ­motivado pelo desejo de fugir de uma situação “intolerável”, podem ser mais comuns em países do ocidente.
Os escapistas provavelmente experimentam uma perda substemivel, sentem-se deprimidos, culpados, ansiosos imprestáveis, vê o futuro sem esperança.

Suicídio Agressivo ­ São motivados por vinganças. Provocar remorsos nos outros ou implicar outros na morte.

Suicídio Objectivo – Há auto sacrifício ou transfiguração. As pessoas sacrificam suas próprias vidas por uma causa mais elevada, como uma ideia religiosa, honra ou patriotismo ou procura uma vida mais elevada.

Suicídio Básico – Os suicídios ocorrem no contexto de um jogo ou teste em que o risco de vida é somente para demonstrar ousadia.

Condições psicossociais que podem predispor o suicídio
• Isolamento social e solidão ­ à medida que, o divórcio, a separação, tornam-se comuns e os membros da família perseguem cada vez o seu desenvolvimento pessoal, mais indivíduos experimentam a solidão e insegurança.
• Stress ­o desemprego e dificuldades económicas, descriminações.

II. CAPITALISMO E SISTEMAS CAPITALISTAS
II.1. Vida e obra de Karl Marx
Economista, filósofo e socialista alemão, Karl Marx nasceu em Trier em 5 de Maio de 1818 e morreu em Londres a 14 de Março de 1883. Estudou na universidade de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, e formou-se em Iena, em 1841, com a tese Sobre as diferenças da filosofia da natureza de Demócrito e de Epicuro. Em 1842 assumiu a chefia da redacção do Jornal Renano em Colónia, onde seus artigos radical-democratas irritaram as autoridades. Em 1843, mudou-se para Paris, editando em 1844 o primeiro volume dos Anais Germânico-Franceses, órgão principal dos hegelianos da esquerda. Entretanto, rompeu logo com os líderes deste movimento, Bruno Bauer e Ruge.

II. 2. Materialismo Dialéctico
Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialéctica (do grego, dois logos, duas opiniões divergentes), Marx defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach.
Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.
Revoluções quantitativas; a contradição é interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material.
 A luta de classes
Pretendendo caracterizar não apenas uma visão económica da história, mas também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura explicar a evolução das relações económicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialéctica das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes.

II.3. O Capitalismo

É o sistema económico que se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção e pela liberdade de iniciavas dos próprios cidadãos.( Giddens, 2004)
Neste sistema, a produção e a distribuição das riquezas são regidas pelos mercados, no qual, em tese, os preços são determinados pelo livre jogo de oferta e de procura.
O capitalista, proprietário da Empresa, compra a força de trabalho de terceiros para produzir bens que, após serem vendidos, lhe permita recuperar o capital investido e obter excedentes, denominados lucros.

Outros elementos que caracterizam o capitalismo, são a acumulação permanente de capital, a geração de riquezas, o papel essencial desempenhado pelo dinheiro e pelos mercados financeiros, a conferencia, a inovação tecnológica, e nas fases mais avançadas da evolução do sistema do surgimento e expansão de grandes empresas multinacionais.
A evolução capitalista industrial foi em grande parte consequência do desenvolvimento tecnológico.

Giddens (2004) , afirma que, numa sociedade com progressos contraditórios, o capitalismo sempre passou por períodos de crise económicas, desequilíbrio politico e inúmeros conflitos. É nesta época que nasce a sociologia ciência inicialmente preocupada em restabelecer a ordem perdida pelo capitalismo.

II.2. Crítica ao capitalismo
A mais rigorosa critica ao capitalismo, foi feita por Karl Marx, ideólogo Alemão que propôs alternativas socialistas para substituir o capitalismo.

Segundo Marx, o capitalismo encara uma contradição fundamental entre o carácter social da produção e o carácter privado da apropriação, que conduz a um antagonismo irredutível entre as duas classes principais da sociedade capitalista: a Burguesia e o Proletariado, (o empresário e os assalariados)


CAPITULO III. CASOS CONCRETOS DE OCORRÊNCIA DE SUICÍDIO NA CIDADE DE MAPUTO

Este trabalho pretende-se apresentar um caso de suicídio extraído de um artigo não publicado do Ministério da Mulher e Acção Social.
Sr. “M” de 32 anos de idade, juntado e pai de 2 filhos. De nacionalidade Moçambicana residente num dos bairros periféricos da cidade de Maputo capital de Moçambique, encontrando-se até ao ano dois mil e dois a trabalhar numaa empresa que produzia e vendia leite condensado em Moçambique, desgnada por empresa “X”.
Sua vida começa a mudar quando a empresa onde trabalhava foi privatizada e posteriormente encerrada mudando o tipo de serviço que prestava e antes Paulatinamente foram-se introduzidas novas tecnologias de ponta na empresa.
Um número considerável de trabalhadores foram despedidos, recebendo uma insignificante indemnização. Sua vida jamais foi a mesma. sentia-se desesperado e sem esperança de encontrar outro emprego.
Passou a depender dos negócios que a mulher fazia para garantir a alimentação para a família e a escolarização dos seus filhos.
Numerosas discussões foram levadas a cabo pela classe dos operários contra os proprietários da empresa. contestavam o valor irrisório da indiminização em benefícios da compra de onerosas maquinas que deixaram muitos pais de família sem emprego e sem um directrizes claras para as suas vidas.
Sr. “M” não desistiu de procurar emprego noutras empresas, porque não tinha uma formação académica que lhe permitia ter um emprego condigno, passou a desenvolver uma crise de depressão caracterizado por: por um estado reduzido do funcionamento psicológico e mental frequentemente associado com sentimento de infelicidade, perda de interesse, e inabilidade para usufruir qualquer experiência, tristeza, perda do apetite, distúrbios do sono, em especial logo no inicio da manhã, passividade de pensamento ou intenções suicidas, uma baixa auto-estima avaliação negativa pessoal que um individuo faz de si mesmo, o senso de seu próprio valor ou competência.
Este cenário durou três anos até que em dois mil e cinco, era um viciado crónico de bebidas alcoólica tradicionais contraindo avultadas dívidas que não conseguia pagar.
Meses depois escreveu uma carta onde refira a si próprio como um abutre sem valor e que tinha uma vontade de desaparecer porque a vida foi injusta com ele, e que não havia emprego para ele, achava melhor coisa a fazer deixar de dar trabalho a família, pós ele constituía um encargo para a família.
Dias depois um órgão de informação sediada na capital de Moçambique anunciava a existência de um corpo a flutuar nas águas da praia da mira-mar na avenida marginal, confirmando a sua morte, onde segundo testemunhas oculares, ele teria ficado uma coisa de 15 minutos sozinho na beira da praia parecendo quem está a espera de um amigo, mas que afinal era tentativa consumada do suicídio por parte do sr. “M”.

CAPITULO IV. ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO CASO

Fazendo uma análise sociológica do caso podendo apoiar-se em teóricos que se notabilizaram no surgimento das ciências socias, como Karl Marx e Émile Durkheim.
Apoiando-se no materialismo histórico-dialéctico como método de análise da vida social na medida em que ela é determinada pela história.
O postulado básico do marxismo é o determinismo económico da estrutura do desenvolvimento da sociedade e um contraditório capitalismo nas sociedades de classe, onde outros quando produzem enriquecem outros empobrecem, dai que surge um conflito no momento em o capitalismo tenta produzir seus bens põe em causa a sobrevovência do próprio homem, em virtude de no mesmo momento produzir produtos tóxicos a sua saúde.
Desta forma, para o caso em estudo, o desenvolvimento tecnológico associado a privatização das empresas que antes pertenciam ao Estado e os meios de produção passam a ser individualizados, verifica-se uma grande contradição na medida em que o desenvolvimento tecnológico permite um explosivo aumento da produção em contraste promove o desemprego e uma crise económica ao nível da classe operária.
A vida social resulta de conflitos de classes e o caminhar desta não é convergente. Face a um elevado número de desempregados, há um grande conflito entre os trabalhadores e o patronato caracterizado pela luta pelos seus direitos exigindo, portanto, o restabelecimento da ordem.
A grande contradição provocada pelo sistema capitalista aumenta consideravelmente a produção de bens esquecendo-se da parte social que fica prejudicada na medida em que há um grande desvio da normalidade caracterizado por fadiga, desgastes psicofísicos, desemprego e cumulativamente, o eminente suicídio analisado por Durkheim como um desvio da normalidade no contexto em que foi estudado. Entretanto, recorrendo a mesma teoria podemos fazer analise do mesmo fenómeno que enferma a nossa sociedade.
Durkheim é categórico ao afirmar que a normalidade é entendida como sinónimo de generalidade. Um fenómeno social é normal quando encontrado de forma geral, permitindo nos afirmar que o desemprego é um desvio à normalidade causado pelo capitalismo.
Se um desvio mantém-se numa sociedade é porque tem uma utilidade.
No que concerne ao suicídio, pode-se enquadrar a acção de Sr. M nos três tipos de suicídio:

Suicídio egoísta: por sofrimento interno que lhe deixava desconfortável.

Suicídio altruísta: pensou na sua família achando que com a sua morte deixaria de preocupar os outros.

Suicídio anómico: resulta do desenvolvimento tecnológico e do capitalismo que fez com que este ficasse desempregado.

Em suma, constata-se uma estreita relação entre o desenvolvimento tecnológico, económico e a dinâmica social do grupo. A acção grupal perpassa a acção individual, isto é, tem efeito ao nível da sociedade em geral e esta análise deve ser feita num compito social.















V. CONCLUSÃO
Em última análise, pode-se compreender que o materialismo histórico dialéctico é baseado numa contradição interna entre os fenómenos. Os conflitos sociais são inevitáveis entre as classes e tem com finalidade a reposição da normalidade.
Perante o desvio social que se verifica na sociedade, há probabilidade de resultar num suicídio. Deste modo, Durkheim enfatiza que o problema não resulta de problemas económicos só, mas sim, da falta de consenso e consequentimente cria um desvio na sociedade pois a socidade é que traça as normas e padrões a serem seguidos pelos membros de uma comunidade.
A partir da análise do Durkheim, tenta-se evidenciar a influência que a sociedade exerce sobre o indivíduo, e uma vez que esta se modifica o indivíduo terá de possuir os meios necessários para a poder acompanhar, isto é, situar-se individualmente dentro do colectivo, para não se abater num estado anómico.
Durkheim levou esta perspectiva ao extremo desenvolvendo um estudo sociológico com base nas estatísticas francesas do suicídio, e chegando à conclusão que as forças maioritárias que levam o indivíduo a terminar com a própria vida são exteriores, isto é, o meio social em que este se encontra é que vai determinar o desfecho da sua vida.”As causas reais do suicídio são forças sociais que variam de sociedade para sociedade, de grupo para grupo, de religião para religião. Emanam do grupo e não dos indivíduos tomados um a um.” (Raymond Aron, pag.331).

Como forma de superar estes problemas sugere-se que haja uma intervenção decisiva do estado na vida económica da sociedade, face ao problema que as pessoas enfrentam devido ao stress do trabalho, desenvolvimento económico, assim, deveria existir em cada grupo social uma área que responda pelos problemas de ordem social.
Em suma, o problema do suicídio na actualidade assim como foi abordado pelos teóricos contemporâneo, não pode ser vista de forma isolada, entretanto este é um problema conjuntural que envolve não só o indivíduo assim como a sociedade em geral. Portanto, urge fazer um estudo aprofundado e uma análise sociológica aprofundada acerca dos factores sociais que podem influenciar no aumento da taxa de suicídio nas sociedades modernas.
Aqui pode-se concluir que os factor capitalismo influencia na prática do suicídio, visto que o tipo de suicídio que aconteceu com o sr. “M” é do tipo anómico, vigente nas zonas industriais e comerciais, quando o indivíduo procura competir e fazer relacionar aquilo que para ele constitui aspirações verso satisfação.
Sem sombra de dúvida, o capitalismo no momento em que produz introduz novas tecnologias que por sua vez, vão degradando a própria vida do homem que está exactamente empenhado na produção dos seus bens, e ao mesmo tempo criando um forte conflito entre os mesmos, culminando com a exploração do homem pelo próprio homem.
Contudo, com base naquilo que eram os resultados esperados com está pesquisa, pode-se afirmar concretamente que o suicídio é gerado pela procura de instaisfação, isto é, baseando-se numa abordagem sociológica dos dois teóricos que se evidenciaram naquilo que era a génese das ciências sociais, usadas para explicar factos que se verificam nas actuais sociedades modernas.

VI. RECOMENDAÇÕES

O cidadão necessita de sentir-se parte integrante da comunidade e cabe aom Governo, a sociedade civil, a igreja se preocupar constantemente com o aspecto da motivação, para que os mesmos trabalhem motivados. Para tal sou da opinião que:

As comunidades devem identificarem as condições psicológicas que conduzem a comportamentos desmotivantes para a práctica do suicídio e de seguida adoptar as seguintes medidas:

i. Reconhecimento durante a produção Capitalista

• Reconhecer / valorizar esforços dos cidadãos pela execução de tarefas;
• Interessar-se pelos problemas profissionais que afectam os funcionários;
• Deixar as pessoas falar sobre o que as motiva e escutá-las com atenção sem intervir desnecessariamente,
• Facultar informação em momento e lugar adequado;
• Oferecer crescentes responsabilidades como recompensa pelo bom trabalho efectuado e evitar ;
• Encorajar os individuos a tomarem responsabilidades. Mostrar-lhes que aprecia quando alguém se encarrega de uma tarefa e inova pela positiva;
• Utilizar algum tempo para conhecer melhor os colaboradores e as suas reais capacidades e competências durante a produção visto que sabemos o capitalismo quando produz os seus bens gera conflitos entre os elementos;

ii. Progresso/Desenvolvimento

• Criticar construtivamente sem ter que interferir desnecessariamente aos indivíduos que tentam experienciar uma tentativa de suicidio;
• Proporcionar fuma reabilitação ou apoio psicológico aos indivíduos;
• Promoção (progresso, mudança de nível ou de posição e do comportamento dos praticantes do suicidio, formação proporcionada pela sociedade possibilidades de promoção que oferece o posto de trabalho).
• Criar oportunidades para que os cidadãos possam assistir a eventos externos (seminários, e palestras sobre o mal que o suicidio traz as comunidades).

iii. Competências do Governo:

• Relações interpessoais (melhoramento das relações com superiores, colegas e vizinhança), por forma a criar um ambiente de harmonia entre todos den tro do país.
• Criar uma Política abrangente (através de decretos ou leis que condenem exactamente indivíduos que de qualquer maneira optam pelo recurso ao suicídio).




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Aron, Raymond (2001).As Etapas do Pensamento Sociológico. 7ed. Lisboa: Dom Quixote, pp.323-337.
2. Davidoff ( 2001), Introdução à Psicologia. Brasilia: Broksom Book.
3- Durkheim, É.(2001); O Suicídio, Estudo Sociológico. Lisboa. 7ª ed: Editorial Presença
4 - Durkheim, É(2001). As Regras do Método Sociológico. Lisboa. 8ed: Editorial Presença.
5 - Giddens, A (2004).Sociologia. Lisboa. 4ed: Fundação Calouste Gulbenkian, pp8-11.
6- OMS (1997). A Saúde mental dos refugiados. Edição Joop T.V.M de jong.

1 comentário:

  1. Excelente trabalho. Perdí um parente a pouco tempo vítima de suicídio e queria me aprofundar mais nesse assunto. Seu estudo foi pra mim de grande valia. Parabéns!

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